Fábio Caldeira
Há uma divisão no país explicitada principalmente pelas duas eleições presidenciais, em que de forma negativa uma forte polarização se mostrou acima de debates programáticos e realmente necessários ao país.
Este um cenário que tende a continuar e doravante até a aprofundar ainda mais. Enquanto uns analistas e experts de assuntos aleatórios de redes sociais fazem análises míopes e obtusas, vemos outras para agradar à sua própria bolha ou à linha editorial do veículo da grande mídia em que trabalha, desfocadas da realidade e desconsiderando à força política que tem um Bolsonaro e um Lula no cenário atual brasileiro. Gostem deles ou não!
Bem, nesse diapasão, vale destacar a coluna do último dia 27 do Merval Pereira, no jornal e no portal do O Globo. Até as palmeiras da praça da liberdade em BH sabem do posicionamento do Grupo Globo em favor de Lula e contra Bolsonaro. Incrível os posicionamentos e tempo dedicado a matérias relacionadas aos dois e a seus respectivos governos, quando positiva ou negativa. Mais que o conteúdo, quem o praticou tem preponderância para definições do formato a ser divulgado.
Merval, que é presidente da Academia Brasileira de Letras, se destaca como um dos poucos do Grupo Globo que tem uma postura independente, com críticas ou elogios aos governos, independente de quem o ocupe. Pode-se discordar dele em algumas análises, mas cabe louvá-lo pela lucidez e imparcialidade de suas reflexões acerca do país.
Intitulada Sinal de alerta, a coluna analisa a manifestação do último dia 25 na av. paulista em SP. "A manifestação a favor de Bolsonaro foi uma demonstração clara de que o país é conservador, de que Lula só ganhou a eleição porque parte do centro político da sociedade não queria a continuidade daquela selvageria do governo bolsonarista. Mas também não quer a continuidade do governo petista tal qual se apresenta hoje. Lula só chegou lá porque se ofereceu para ser fiador de um governo de união nacional. Ele usou a força desse centro da sociedade brasileira para derrotar Bolsonaro. Mas não ganhou a eleição para fazer o governo que tem feito.
Um governo de esquerda, que procura se afastar do Ocidente para almejar uma liderança do Sul Global que une ditaduras dos mais diversos calibres, só porque são antiamericanas. Não é essa a vontade da sociedade brasileira, não são esses os desígnios que as urnas indicaram. Não é preciso ser vira-lata em relação aos Estados Unidos, nem caudatário dos desmandos do governo de Israel, para ser um país independente no cenário internacional.
Embora o PT ache que as urnas deram a ele o direito de tentar impingir à população brasileira uma direção política que não é a que combina com a maioria conservadora do povo brasileiro."
Dispõe adiante que "A esquerda tem de entender que não chegou ao poder por seus próprios desígnios, mas para evitar que Bolsonaro continuasse seu projeto de retrocesso da sociedade. Se Lula fizesse um governo de união nacional, sem tentar impingir suas teses esquerdistas à maioria, controlaríamos esses extremismos.
Infelizmente, dependemos do surgimento de um líder equilibrado e popular para colocar o trem no trilho novamente. Que é de centro, de equilíbrio, que quer a evolução do país; não quer o retrocesso de Bolsonaro, mas também não quer o retrocesso de esquerda identitarista, que dá mais valor a questões particulares de grupos mobilizados politicamente do que do ponto de vista geral do bem-estar inclusivo da população, cuja maioria não quer ser emparedada por uma elite, quer ser partícipe do desenvolvimento".
Interessante reflexão. Concordando ou não, uma análise a ser levada em conta por todos os que admitem e se permitem pensar fora da bolha e reconhecem ser a tolerância um princípio básico da democracia! (Hoje em Dia 01/03/2024)