POLEPOSITION

O que ninguém vê, mas o cronômetro mostra

Por: Sérgio Magalhães | Categoria: Esporte | 13-04-2024 02:03 | 1805
Red Bull segue dominando na F1, mas no  cronômetro as equipes estão mais próximas
Red Bull segue dominando na F1, mas no cronômetro as equipes estão mais próximas Foto: DPPI / FIA

Em Suzuka, Max Verstappen voltou a vencer depois de um colapso nos freios que o tirou dos trilhos na Austrália. Foi a terceira vitória do holandês em 4 corridas nesta temporada (nenhuma novidade), e também a terceira dobradinha da Red Bull com Sergio Pérez saindo do fundo do poço em que se afundou no ano passado. Outro resultado digno de nota foi o 3º lugar de Carlos Sainz com a Ferrari. O espanhol vai se destacando como o primeiro homem da linha de frente depois da dupla da Red Bull. Sainz subiu ao pódio nas três corridas que disputou esse ano. Foi 3º no Bahrein, se ausentou de última hora na Arábia Saudita por conta de uma cirurgia emergencial de apendicite, mas quinze dias depois venceu na Austrália e foi terceiro colocado novamente no Japão.

Mas o que chamou atenção no GP do Japão foi a verdade do cronômetro. Por mais que possa parecer tedioso e irritante para muitos assistir ao desfile do mesmo vencedor, a diferença de tempos entre o primeiro colocado e o último do grid diminuiu bastante em relação ao ano passado. No primeiro bloco da classificação de sábado, o Q1, 14 carros ficaram dentro do mesmo segundo do mais rápido, Verstappen (0s955) e 1s277 foi a diferença para o 20º colocado, Guanyu Zhou, da Sauber que largou em último.

No segundo bloco, o Q2, que define os dez que avançam para o Q3, novamente dominado por Verstappen com 1:28:740, a diferença para o 10º colocado foi de pouco mais de meio segundo (0s677) e 0s974 até o 14º colocado.

A pole de Verstappen foi de apenas 0s066 de vantagem sobre o companheiro Pérez, mas novamente os 9 primeiros foram separados por menos de um segundo do tempo da pole, 0s811. Já houve épocas na F1 em que os dois pilotos da primeira fila do grid eram separados por mais de um segundo, e agora estamos falando de menos de menos de 1s entre os nove primeiros numa pista extensa de 5.807 metros, cheia de desafios como Suzuka. Em um traçado curto seria normal, mas trata-se de uma pista com quase 6 km de extensão.

O teto orçamentário de US$145 milhões introduzido na F1 a partir de 2021 começa a surtir efeito. Ele impede que equipes como Red Bull, Ferrari, Mercedes e McLaren que gastavam dinheiro a rodo possam evoluir mais do que o teto orçamentário permite e ao mesmo tempo dá mais chances para as equipes com menos recursos evoluírem e aos poucos encurtar a desvantagem para a turma da frente.

Em ritmo de corrida a história muda. Red Bull, Ferrari, McLaren, Mercedes e Aston Martin dominam a zona de pontuação e o que sobra são migalhas que o japonês Yuki Tsunoda está aproveitando ao máximo na medida em que alguém tropeça. Tsunoda, da Racing Bulls, ou RB se preferir (nome da ex-Alpha Tauri),  é o 11º colocado com 7 pontos. Na Austrália ele beliscou um importante 7º lugar graças ao abandono de Verstappen e uma punição de Fernando Alonso, da Aston Martin, que havia terminado em 6º. E em Suzuka terminou em 10º, somando um ponto e quebrando o tabu que vinha desde 2012 com o 3º lugar de Kamui Kobayashi que um piloto japonês não pontuava em casa.

O GP do Japão, que tradicionalmente acontecia entre as últimas etapas da temporada, desta vez foi alocado para abril por conta de uma tentativa de a F1 regionalizar as etapas a fim de amenizar os impactos do calendário maluco deste ano com 24 corridas.

Portanto, o intervalo entre o GP do Japão do ano passado, disputado em setembro, e o realizado no domingo passado, foi de seis meses. E há um comparativo bastante interessante do quanto cada equipe evoluiu de lá para cá. Como era de se esperar, a Red Bull foi a que menos evoluiu (0s680) e por aí se vê o quanto eles estão na frente, mas chega o ponto em que não há muito mais o que melhorar. A McLaren foi 0s969 mais rápida. A Ferrari 0s860; Mercedes, ainda que o W15 esteja longe de ser competitivo, evoluiu 1s141. RB 0s775; Aston Martin com 1s526 foi a que deu o maior salto. Williams 0s889. Alpine 0s986. Haas 1s109 e Sauber 1s401.  

O comparativo ganha mais importância uma vez que as condições climáticas eram parecidas, os pilotos são os mesmos nas mesmas equipes, assim como os mesmos compostos da gama mais dura de pneus da Pirelli (C1, C2 e C3). São detalhes que a gente não vê, mas que o cronômetro mostra. Por incrível que pareça, com todo o domínio de Verstappen, a F1 está mais equilibrada.