30 ANOS

Oficina de Artes Cênicas Sebastião Furlan comemora 30 anos

Criada para honrar uma memória, oficina segue construindo um grande legado em Paraíso
Por: Ralph Diniz | Categoria: Cultura | 01-06-2024 03:00 | 995
Memórias de Um Sargento de Milícias, 2016, direção de Lucas Logan e Katia Mumic
Memórias de Um Sargento de Milícias, 2016, direção de Lucas Logan e Katia Mumic Foto: Reprodução

No mês de maio, a Oficina de Artes Cênicas Sebastião Furlan comemorou seu 30º aniversário, consolidando sua posição como um dos pilares culturais de São Sebastião do Paraíso. Fundada em 16 de maio de 1994, a oficina foi estabelecida para honrar a memória e perpetuar o legado de Sebastião Furlan, conhecido afetuosamente como Tião Furlan, um visionário do teatro que deixou marcas na comunidade através de sua dedicação à arte e educação.

Tião Furlan, membro da Academia Paraisense de Cultura e fundador da Cia. Libertas de Teatro, foi um dramaturgo, jornalista, encenador e professor apaixonado que serviu como diretor da Escola Estadual Paraisense de 1985 a 1990. Sua obra “Chão e Chuva” foi a primeira a ser encenada pela Oficina após seu falecimento em 1993, estabelecendo um padrão de excelência e compromisso com a arte cênica que a oficina seguiria nos anos subsequentes.

Inclusive, o legado de Tião Furlan para a cultura paraisense é tão importante que o teatro municipal também recebeu o seu nome em 1999 e continua a ser uma fonte de inspiração para todos na Oficina. “O teatro é uma porta de entrada para aqueles que ousam construir um mundo melhor”, explica Katia Mumic, cofundadora da Oficina e uma das primeiras a vislumbrar o potencial de um espaço dedicado ao teatro em São Sebastião do Paraíso. Ao lado de Kayho Rodrigues, ela continua a guiar a nova geração de artistas com a mesma paixão que Tião Furlan compartilhava.

Desde sua fundação, a oficina já montou mais de 60 espetáculos e acolheu mais de 700 alunos, cada um levando adiante a ética e a visão de Tião Furlan sobre a arte como ferramenta de transformação social. A celebração de 30 anos não é apenas um marco de resistência artística, mas também um testemunho do poder do teatro em moldar personalidades, construir comunidades e enriquecer a vida cultural da região.

Em meio às celebrações, as palavras das fundadoras da Oficina de Artes Cênicas Sebastião Furlan, Edyna Maldi Borges e Katia Mumic, ressoam com profundidade e paixão. Edyna reflete sobre a jornada: “Um povo sem memória é um povo sem história. E como é bom fazer parte desta história. Katia e eu partimos nessa aventura, voando como águias com ânsia de amor, alegria e carinho. Aceitamos desafios e corremos riscos, mas valeu a pena. Semeamos, plantamos e muitos frutos brotaram. Oficina de Artes Cênicas Sebastião Furlan 30 anos... nós te abraçamos pelo ontem, pelo hoje e pelo amanhã. Nossa eterna gratidão a todos que fizeram e fazem parte de nossa história, onde a tônica maior foi a fé e a esperança e sobretudo o amor à arte teatral”.

Por sua vez, Katia Mumic destaca a essência transformadora da arte: “Nós vivemos o teatro, o amor e a arte. Vivemos a vida através da arte, do amor, dos gestos e das encenações. Vivemos um pouco da inspiração divina. E através da arte do amor, vamos atingindo a alma, o ser e a nossa libertação interior. A arte, apesar de imitar a vida, nos faz voar para lugares diferentes, nos faz sonhar e criar mundos melhores, mais bonitos, mais humanos e mais justos. É assim que a oficina de Sebastião Furlan leva a arte a milhares de alunos em São Sebastião do Paraíso”.

Para as fundadoras, celebrar os 30 anos da instituição não é apenas marcar o tempo, “mas reconhecer uma trajetória de impacto, paixão e, acima de tudo, um legado de amor pela arte que continuará a inspirar e transformar futuras gerações”.

Kayho Rodrigues, atual diretor da Oficina de Artes Cênicas Sebastião Furlan e parte integrante da instituição desde 2016, compartilha sua experiência e paixão pelo teatro. “Estar presente em São Sebastião do Paraíso há 30 anos faz da oficina uma das maiores referências de teatro na região do Sudoeste de Minas Gerais”, afirma. “Fazer parte do time de diretores da oficina é uma honra, pois a oficina tem um trabalho sério e muito disciplinado com arte teatral”.

Rodrigues, que tem quase 15 anos de experiência em teatro, observa o crescimento e desenvolvimento contínuo de seu trabalho em parceria com Katia Mumic. “Desde o ano de 2022, estamos nos apresentando no teatro da ACISSP, sendo o único grupo teatral a desenvolver as atividades nesse espaço”, revela. Ele destaca a evolução que a oficina experimentou nesse novo espaço teatral, que oferece uma infraestrutura de primeira qualidade. “O que me move é a arte teatral, fazer teatro, estar no teatro, viver teatro; e a Oficina de Artes Cênicas Sebastião Furlan me proporciona tudo isso”, expressa com entusiasmo. “A cada apresentação, a cada aula, a cada ensaio, sempre são novas emoções. Poder levar o teatro às pessoas de Paraíso é algo que nos emociona cada vez mais e sentir que o público está gostando, participando e admirando nosso trabalho é muito significativo”, afirma o professor.

E, ao longo dos anos, a Oficina de Artes Cênicas Sebastião Furlan não apenas educou e inspirou centenas de alunos, mas também deu origem a muitas carreiras notáveis no setor cultural. Entre os ex-alunos que se destacaram e continuam a influenciar a cena cultural estão nomes como Amanda Akari, Ana Luiza Formagio, Ana Machado, Bia Arantes, Bruno Pessoni, Caio Neves, Danilo Roxette, Eduardo Penner, Gabriel Machado, João Roncatto, Kayho Rodrigues, Lucas Logan, Marcelo Oliveira, Marília Nogueira, Neto Basílio, Patrícia Longo, Rodrigo Cotrim e Thiago Reis. Esses talentos evidenciam o papel significativo da Oficina na formação de profissionais que ainda hoje dinamizam as atividades culturais em São Sebastião do Paraíso e além.

Três desses ex-alunos, que hoje são profissionais renomados, compartilham suas experiências e o impacto da Oficina em suas trajetórias. Danilo Roxete, diretor teatral formado pela Universidade Federal de Ouro Preto, tem dedicado sua carreira à edição, criação e projeção de vídeos voltados para o teatro. Sua jornada na Oficina, entre 2000 e 2005, e seu retorno como coordenador de projetos em 2013, ilustram seu compromisso contínuo com o teatro. Danilo ressalta a importância da instituição na formação de artistas engajados e conscientes. “Desde a sua fundação, a Oficina se esforça pela valorização da arte, pelo diálogo, pelo respeito, pela construção artística coletiva, pelo teatro como uma linguagem potente para a experiência artística e pelo exercício da cidadania na realização cultural,” afirma ele. Roxete destaca o esforço contínuo da Oficina para captar recursos via editais públicos, apesar dos desafios, e a preparação de um espetáculo especial para celebrar os 30 anos de atividades.

Thiago Reis seguiu um caminho acadêmico após sua formação inicial na Oficina, onde foi aluno de 2001 a 2008. Hoje, ele é mestrando em Patrimônio e Restauro pela Universidade Federal da Bahia e atua como diretor geral da Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia. Seu envolvimento com o teatro vai além da atuação, abrangendo também a roteirização, direção de cena e cenografia. Thiago reflete sobre o legado da oficina: “Que sorte têm as pessoas paraisenses de estarem no mesmo tempo em que a oficina. Através do curso de teatro, centenas de jovens puderam não só experienciar a atuação, mas também desempenhar diversas funções fundamentais no fazer teatral”.

Marcelo Oliveira, professor de Artes pela Universidade Claretiano e ator formado pelo Teatro Escola Macunaíma e pela Escola de Arte Dramática, leva consigo as lições aprendidas na Oficina, onde foi professor e diretor artístico de 1998 a 2002. Com quase três décadas de carreira teatral, Marcelo vive e trabalha em Belo Horizonte, e expressa uma profunda gratidão por sua primeira professora, Edyna, e pelo impacto duradouro que a Oficina teve em sua vida. “Não posso deixar de ressaltar que a minha vida na arte só existe, ela só aconteceu a partir dos ensinamentos da minha professora tão amada e querida, a dona Edyna, que foi minha primeira professora de artes na vida”, ele compartilha com emoção.

O reconhecimento do valor da Oficina veio também através de prêmios importantes. Em 2014 e 2016, a instituição foi agraciada com o prêmio Cena Minas do Estado de Minas Gerais, um testemunho do seu compromisso com a excelência em artes cênicas. Mais recentemente, Marília Nogueira e Lucas Logan foram contemplados pelos editais da Lei Paulo Gustavo, destacando-se em um cenário competitivo a nível estadual. “Orgulhosamente, São Sebastião do Paraíso submeteu e aprovou mais propostas nesses editais do que o município de Passos, refletindo o impacto duradouro e a influência crescente da Oficina na região”, declaram os atuais gestores da oficina.

Marcelo Oliveira, Lucas Logan e Katia Mumic. A Bruxinha que Era Boa, 2002
Mostra de Inverno - Disney, 100 anos de Emoção, 2023, direção de Kayho Rodrigues e Katia Mumic
O Pequeno Príncipe, 1995, Direção Edyna Maldi Borges e Katia Mumic
Kayho Rodrigues, Katia Mumic, Danilo Roxette e Edyna Maldi Borges. Reunião dos 30 anos de Oficina, 2024