No dia 14 de dezembro vindouro, completam-se 50 anos da formatura da primeira turma de alunos do curso de Ciências Contábeis, da então Faceac, atual Libertas Faculdades Integradas, de São Sebastião do Paraíso. A comemoração foi antecipada, e em 28 de setembro, ex-alunos, familiares, professores, diretores da Libertas e convidados se reuniram no auditório da instituição, noite emotiva, e de reminiscências.
O reencontro foi coordenado por Sebastião Cruvinel Fonseca, um dos integrantes da turma, e teve o apoio da direção, professores e do funcionário da Libertas, Luiz Corsi. “Meados de junho me encontrei com o Lenine de Souza Furtado, e ele me questionou se não iríamos comemorar os 50 anos de nossa formatura. Falei com o professor Davidson Scarano, diretor acadêmico da Libertas, que abraçou nossa ideia, e indicou caminhos a serem percorridos, disponibilizando funcionário para nos ajudar. O convite de formatura e lista para consultas e localização de integrantes da turma, foi a ex-aluna Marcia Giubile quem me forneceu”, conta Sebastião Cruvinel.
A tarefa não foi fácil. “Eu não sabia nem por onde começar. Os de Paraíso são conhecidos, mas tínhamos colegas de diversas localidades e outros estados, os dados constantes nas anotações estavam desatualizados, de vez que boa parte era da época em que cursamos a faculdade. Falei com a Wandaeleusa Guidorizzi, de Monte Santo de Minas e ela me passou o contato de colegas naquela cidade e outro, em Itamogi. Na busca consegui encontrar dezesseis integrantes, mas solicitei à Libertas que certificados em nome dos que faleceram, fossem entregues a familiares, e homenagem fosse prestada a professores, e assim foi feito”, conta Sebastião Cruvinel.
Na solenidade, o diretor acadêmico Davidson Scarano mencionou personalidades que ajudaram na implantação e abertura da Faceac e disse que atas do vestibular e pastas dos alunos ao longo dos quatro anos de curso, são guardadas com muito carinho. Salientou que fotos de ex-alunos, diretores e presidentes estão expostas, para que a nova geração saiba que existe toda uma história.
Sebastião Cruvinel enfatizou que muitos se foram, não puderam comemorar este momento único, 50 anos de formatura, que equivale a uma existência.
Mencionou dificuldades enfrentadas, dentre outras, a incerteza que a faculdade seria reconhecida pelo Ministério da Educação. “Foram dois ou três anos, até que veio a boa notícia”, disse.
Ao cumprimentar os professores Dr. Luiz Ferreira Calafiori, Francisco dos Santos Tubaldini, e professora Arlete de Carvalho, presentes ao evento, e também mencionar a professora Gersone do Couto Rosa Vilela, ressaltou que esses e outros abnegados mestres, no início do curso, deixavam o aconchego de seus lares, para lecionar de graça.
No início a Faceac funcionou nas antigas instalações da Escola de Farmácia e Odontologia, imóvel que pertencia à Fundação. Houve uma permuta e nele foi construída atual agência do Banco Itaú, ao passo que a Faceac recebeu em troca o imóvel onde funcionou o Seminário do Sion, onde a Libertas Faculdades Integradas, se expandiu.
“Esta casa é uma grande família, abraçamos não apenas a comunidade, mas nossos alunos com um processo de individualização. Desde a época da fundação em 14 de julho de 1970, ata aberta pelo professor Fredolino, a gente tem esta tratativa diferente”, pontuou o professor Davidson Scarano, ao afirmar que a Libertas “formou os melhores contadores, até em nível de Brasil. Temos contadores que são peritos do Banco Central, formados na Libertas”, enfatizou.
Dos sessenta e cinco formandos da primeira turma de Ciências Contábeis, Sebastião Cruvinel conseguiu contato com quarenta e um, entre colegas e familiares dos falecidos:
Lenine de Souza Furtado, Wandaeleusa Guidorizzi, Olavo Leite (falecido), Ubirajara Marques, Maria Terezinha Martins da Silva, Ug Queiroz, Ivani Pas-choal, Marcos Duarte Queiroz, Sebastião Cruvinel Fonseca, Benedita Mumic Borges da Cunha, Francisco Domingos Cecchini, Antonio Fernando Paschoal, Maria Luzia de Costa, Celso Augusto Ozelin, João Bugança, Ana Maria Giubilei (falecida), Marcia Giubilei, Wilson Barbosa, Domingos Alves Moreira, Mauro Gilberto Chicaroni, Maria da Graça Pimenta, José Haroldo Lemos (falecido), Carmo Paschoini (falecido), Zuleica Radaeli Mesquita, José Alpineu de Lima, Tarley Cerize, João Batista de Souza, Aparecida Maria da Glória Guedes (falecida), Vicente Florêncio Garcia, Claudio Nóbrega (falecido), Octamar Moura Peres (falecido), Gerson Couto Rosa Vilela (falecida), Carlos Mesquita (falecido), Neusa Borges da Cunha (falecida), Carmen Andrade Melles (falecida), Walter Farres (falecido), Luiz Claudio de Paula, Robério Nogueira (falecido), Perciliana Bortone de Moura (falecida), Lair Furtado (falecido), Martha Maria de Oliveira.
Formandos que também integram a turma:
Antônio Francisco Ângelo, Antônio Gabriel, Antônio Paschoaline, Arthur Carlos Marques, Ayres de Lima Ribeiro, Cecília Maria Santos, Elias de Aquino, Ercolino Carnevalle, Ernesto de Oliveira Júnior, Francisco Ernesto Espósito, Hélio Lopes dos Santos, Irineu Domingues, João Calvino Mac-kinght, José D’Ávila Bitenco-urt, José Gonçalves de Lima, José Sanches Calderon, Luiz Carlos Duarte, Marco Aurélio de Barros, Moacir Furlanete, Orival Cassandra, Salvador Cândido da Silva, Vera Lúcia dos Reis, Vicente Valentin Toloi, Walter Fernandes da Silva.
Na solenidade, a oradora Wandaeleusa Guidorizzi fez o seguinte pronunciamento
Prometo compensar a ousadia de falar com vocês, sendo breve.
Vou apenas relembrar alguns casos acontecidos nos anos de 1971 a 1974, ainda muito vivos em nossa memória. Mas, antes, devo agradecer ao quadro de professores que por lá passaram e cujas lições se inspiravam na pura vocação do magistério, sem receber, durante trezentos e sessenta e cinco dias, a paga por seu árduo trabalho (fato que talvez nem todos conheçam).
Éramos 65 estudantes da Faceac, Fundação Faculdade de Ciências Contábeis de São Sebastião do Paraíso. Para nos formar, tivemos de refazer os exames do primeiro ano do curso de Contabilidade: fomos aprovados e cá estamos, cinquenta anos depois!
Tantas lembranças! Como esquecer o sorriso da Aidê Gonzales, nos aguardando a chegada para a primeira aula? Ou o esforço incansável e a perene dedicação da professora Marta Sônia Dib, membro ilustre da Academia Paraisense de Cultura?
Não posso deixar de abrir aqui uma janela para Sebastião Quirino Borges, membro da diretoria, mais conhecido como Tião Pampa, que entesourava num velho cofre nossos cheques “voadores”, nome poético para pré-datados. Quem ainda se lembra desse documento bancário retangular, antecessor do cartão de crédito, do PIX e do próprio papel-moeda, que valia dinheiro (caso tivesse fundos, é claro)? Foi-se na noite dos tempos, juntamente com o disco de vinil.
Para compor a biblioteca, olha a figura da Marta Sônia Dib, em atuação, juntamente com Francisco Tubaldini, professor de Educação Física.
Aula inaugural, bandeira brasileira caída atrás da porta, Entra nosso digno professor Luiz Ferreira, aqui presente, que, indignado com tamanho sacrilégio, agarra-se ao venerável símbolo nacional e nos esmaga com uma portentosa aula de patriotismo – não se poderia esperar outra coisa de quem, afinal, iria nos iniciar em Estudos de Direitos Brasileiros. Agradeço os ensina-mentos e a repreenda.
Nosso professor de Economia, o boliviano Júlio Alfredo G. Iriarte, pregava a seguinte hierarquia das notas: 10 para Deus, nove para o professor e o resto para os alunos. Todavia, nossa colega aqui presente, Maria Terezinha Martins conseguiu o 10 de Deus.
Em uma prova, respondendo à pergunta sobre quais são os tipos de banco, um dos alunos incluiu: “banco de sangue”. Não se pode condená-lo, ele havia colado de um colega. Nunca antes havia visto, Dr. Epitácio Advíncula de Souza digníssimo promotor de justiça, um mestre em fúria.
Deixando as tragédias de lado, olha nosso colega e adeptos do querido Octamar Moura Peres, preparando uma saborosa galinhada, nas noites de sextas e me parece que a origem dos galináceos, advinham do quinta de Dona Antônia, vizinha da Faculdade. Só não me consta que ele usasse a toca blanche ou seja, chapéu de cozinheiro.
Cabe lembrar que nossas aulas eram ministradas, apenas às sextas-feiras, à noite e sábados pela manhã, tão somente.
Eu como moça comprometida com namorado ciumento, me recolhia na aconchegante residência do distinto casal, senhor Antônio e dona Maria Radaelli, que iriam me propiciar uma caminha confortável e no sábado um almoço delicioso. Dona Maria postada ao lado da mesa do almoço, com concha em punho, aguardando, carinhosamente, o pedido de quero mais.
Refiro-me aos pais de nossa colega, aqui presente, Zuleica Radaelli Mesquita que se enamorou, vindo a se casar com nosso colega Carlos Mesquita, que hoje vive em outros planos.
O professor de matemática, Petrônio Parenti, procedente da cidade de Passos, nos ensinou a famosa regra de três e até hoje uso bastante na minha vida diária. Então era assim: tudo que está na linha do X multiplica-se e o restante é dividido pelo resultado da multiplicação.
Se vocês não entenderam muito bem é porque não me dei muito bem como professora e, através de concurso, fui aprovada na Secretaria de Estado da Fazenda de Minas Gerais, graças ao diploma de curso superior a mim aqui conferido.
Petrônio se afastou e foi substituído por Arlete Pereira de Carvalho, bem mais severa e bastante competente.
Tivemos Evânio de Paula Abreu na contabilidade, também cidadão passense, simpatia em pessoa. Apesar de dedicada aluna devo ter faltado em sua aula de custos e benefícios. Vejam bem, comprei um banco de madeira para decorar a minha chácara por R$ 250,00. Para conservar o banco de R$ 250,00 mandei pintar de verniz marítimo, o mesmo usado nos cascos de navios, um tantinho caro. Não me contentando somente com a pintura, resolvi fazer um telhado com telhas ecológicas, para proteger o meu banco de madeira, cujo custo final foi de R$ 1.500,00. Difícil de acreditar.
Meu consolo será ele ser visto por um drone e a equipe do SBT passar a produção da Praça é Nossa, com o Nóbrega e seus comediantes lá sentados. Então, e tão somente assim resgatarei os benefícios!
Esse prédio não foi o cenário de quatro anos vividos e sim, por dois anos, onde hoje se situa o Banco Itaú. Era um velho prédio, onde o assoalho rangia e a porta do banheiro não tinha fechadura. Pasmem!
Fala-se à boca pequena que pela falta do trinco, algum incidente lá ocorreu. Ficamos assim, nem todo boato é fato e nem todo fato é boato.
Parece que minha memória fotográfica está captando as imagens da turma toda na sala de aula. Aos fundos os mais incontroláveis. Na frente, a figura de Dona Gersone Couto Rosa Vilela, elegante, postura impecável, aqui representada por sua filha Ruth.
Também havia a turma de São Paulo que sempre chegava atrasada, haja visto que não havia asfalto, por estas bandas de cá. Se bem me lembro eram diretores e funcionários do Makro.
Infelizmente, nem todos puderam ser localizados.
Por falar em viagem, minha boa amiga Ivani Paschoal me acompanhava nas idas e vindas, de Monte Santo, como naquela fatídica ocasião em que meu Karmanghia se atolou com as quatro rodas, em noite de chuva e lama. Resultado: chegamos atrasadas à prova de Direito, exibindo garbosamente nossas botas sujas de barro. Por sorte, Dr. Vilobaldo Gil, sem desmentir seu notório cavalheirismo, nos permitiu o acesso à sala de aula achando, sem dúvida, um tanto engraçadas aquelas duas tristes figuras.
Creio também que o nosso nobre Dr. Vilobaldo, no aconchego de seu lar, deve ter comentado o fato e, só então, ter dado boas risadas com sua doce esposa Maria.
Muitos se foram, outros não pudemos trazer aqui nesta noite, apesar dos esforços incansáveis do Sebastião Cruvinel Fonseca a quem eu gostaria ser merecedor de uma salva de palmas. Esta criatura não se contentando em ser aluno da Faceac, também lecionou Contabilidade nestes bancos escolares e não contente com o diploma de contabilista graduou-se em Direito e ora exerce a profissão. E, o quê ele faz, faz direito. O seu lazer vai bem, pontuado com apaerol e o toque de sua viola.
Evocando Camões no soneto “Sete Anos de Pastor”, digo que este meio século decorreu para mim como num sonho e que de mais outro eu me lembraria se para tão profundo sentimento de afeto não fosse tão curta a vida.
E me reportando ao mestre Ariano Suassuna, eu não sei como foi, eu só sei que foi assim ...
Para aqueles amigos e colegas da Faceac que já encontram na Pátria Espiritual, eu só tenho uma palavra, a mais bela da língua Portuguesa: Saudade.
Tenho dito.