Há pistas espetaculares na F1 como Silverstone, Spa-Francorchamps, Mônaco (hoje nem tanto), Monza, sem contar as que já não fazem parte do calendário. Mas nenhuma produz conteúdo como Interlagos. É em Interlagos que as coisas acontecem, faça sol ou faça chuva. Aqui tem sempre um pouco de tudo, quando não, tudo junto! Corridas caóticas, dramáticas, disputas épicas, ultrapassagens emblemáticas, quatro estações do ano em um único final de semana, tempestades, paralisações, Safety Car, público apaixonado que enfrenta perrengues e não arreda o pé, e atuações soberbas como a de Max Verstappen no GP de São Paulo há quinze dias.
O que Verstappen fez esse ano ficará registrado como uma das maiores apresentações que um piloto já demonstrou no Brasil, e sobretudo na chuva. O mesmo Verstappen em 2016 já havia impressionado sob condições climáticas parecidas com a deste ano. Eu estava lá em meu primeiro Grande Prêmio como jornalista cobrindo a corrida para o Jornal do Sudoeste. Escrevi na época que “Verstappen teve um dia de Senna no molhado” com impressionante domínio do carro e fazendo ultrapassagens de arrancar aplausos na sala de imprensa, como a inesquecível manobra sobre a Mercedes de Nico Rosberg, por fora na Curva do Sol, que não saiu da minha cabeça até hoje. Ele terminou a prova em 3º e tinha apenas 19 anos em 2016.
A apresentação de Verstappen no Grande Prêmio deste ano foi ainda mais assombrosa. A forma com que ele encontra aderência no asfalto molhado onde ela não existe é algo que precisa ser estudado. A largada, partindo da 17ª posição, foi antológica. Verstappen foi o único a tomar a linha de fora na freada para o S do Senna e assim como havia feito com Rosberg e outros pilotos em 2016, ultrapassou vários carros por fora, completando a primeira volta em 11º. Quando o Safety Car entrou na pista na 27ª volta devido à chuva ter aumentado, ele já estava na 3ª colocação.
Era uma corrida em que Verstappen estava fadado a perder muitos pontos no campeonato. No seco, a Red Bull não teve o mesmo desempenho do molhado e Lando Norris venceu a Sprint do sábado reduzindo para 44 pontos a vantagem do adversário. Mas veio a chuva torrencial da tarde e adiou a classificação para o domingo de manhã. Verstappen carregava uma penalidade de 5 posições no grid por ter trocado a quinta unidade do motor de combustão. Quando estava em sua volta rápida nos instantes finais do segundo bloco da classificação (Q2), Lance Stroll bateu e causou bandeira vermelha. Verstappen não pode completar a volta e sequer avançar ao Q3. Tinha o 11º melhor tempo e com as 5 posições de acréscimo, foi obrigado a largar de 17º.
Tudo bem que três carros que estariam à sua frente tiveram problemas. Alex Albon não pode largar porque destruiu sua Williams na classificação. Stroll rodou na volta de apresentação e ficou atolado na brita. E Carlos Sainz precisou largar dos boxes. Mas nada tira os méritos do que Verstappen fez durante as 69 voltas da corrida. Na largada, o pole position Lando Norris perdeu a posição para George Russell. Quando a chuva apertou, a leitura da Red Bull foi mais inteligente que as de Mercedes e McLaren que pararam seus respectivos pilotos para a troca de pneus. Apenas os dois carros da Alpine e a Red Bull de Verstappen arriscaram ficar na pista até que a prova fosse paralisada por conta de muita água na pista e baixa visibilidade.
Quando a corrida recomeçou, o GP de São Paulo já tinha uma nova dinâmica, e um potencial vencedor. Verstappen jantou Esteban Ocon no S do Senna e caminhou para a vitória, enquanto mais atrás Norris passou reto, perdeu posições e terminou apenas em 6º, dando praticamente adeus ao título. Na corrida em que Norris teve a grande chance de encostar no líder do campeonato, ele praticamente deu adeus ao título. Norris é um dos grandes pilotos dessa geração da F1, mas não está pronto para ser campeão. Enquanto isso, Verstappen que nem precisava, foi o mais rápido em cada uma das últimas 11 voltas da prova.
Restam apenas três corridas para o encerramento da temporada e será em outra sequência de rodada tripla: Las Vegas no próximo final de semana, Qatar na sequência, e finalmente Abu Dhabi no dia 8 de dezembro fechando o mais longo campeonato da história da F1 depois de 24 corridas.