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Oferenda ao meu Pai

Por: Redação | Categoria: Do leitor | 28-10-2017 17:11 | 1880
Foto: Reprodução

Norma Aparecida Perrone Naves




Eleera bom, puro e despojado. Belo como a luz. Bom como o pão. Puro como a água. Despojado como o trigo a entregar suas espigas de ouro ao vento da manhã.
Surdo, mas reconhecia o tilintar das horas e ouvia apenas as coisas verdadeiras.
Sábio, pois muitas vezes se contentou com o silêncio da contemplação.
Ele havia derramado toda sua audição para tentar entender o universo. Um dia, toda sua inteligência se transformou em um grito de dor.
De sua boca, de onde nasceram tantas palavras luminosas, transformadas em condão de números e obeliscos geométricos a desvendar os novos cérebros os segredos do mundo, se faz o silêncio.
Hoje ele se foi ao encontro do inefável e, por ironia, os fios se romperam, confundido a inequação humana, sua realidade.
O único bem que o mestre possui, sua mente, foi seu algoz final. A morte do seu cérebro, lenta, dura, cruel, mostra-nos que nada temos e nada somos. Morrer é despir-se dos seus últimos bens. Uma soma de números se interpõe entre ele a vida.
A matemática da ingratidão dos homens se soma àquela fragilidade temporal.
Era às vezes cego, pois havia derramado o seu olhar sob o acampamento de estrelas onde se via tanta gente somando conquistas, multiplicando desejos, equacionando explicações.
Ele era o mestre e dava sua última aula.
Suas mãos harmônicas e ágeis se retorceram inibidas sobre os fios dos seus pensamentos. E nesse acalanto, onde tecemos flores à sua passagem, ele voltará a ser liberto e, como uma criança, sua alma dançará pelos ares.
Antevejo o Grande Arquiteto tomando a sua lição: A sequência de Fibonacci. O número de ouro.  A medida de sua alma. (Do livro Antologia – 30 Anos da Academia Paraisense de Cultura)




NORMA APARECIDA PERRONE NAVES - É membro da Academia Paraisense de Cultura.