Sergio Magalhães, de Interlagos, São Paulo
Foi no GP da Inglaterra em meados de 1970 que Emerson Fittipaldi estreou na Fórmula 1 correndo pela Lotus – marcou os primeiros três pontos da carreira na corrida seguinte, na Alemanha, e a primeira vitória nos Estados Unidos, assegurando o título póstumo do austríaco Jochen Hindt.
De lá para nunca mais a Fórmula 1 começou uma temporada sem representante brasileiro. Ano que vem será o primeiro, com a aposentadoria de Felipe Massa que disputa hoje seu último GP do Brasil. Em Abu Dhabi, no próximo dia 26, Massa encerra definitivamente sua jornada na Fórmula 1, ponto fim a uma carreira que começou em 2002, pela Sauber, e até aqui foram 267 Grandes Prêmios, 11 vitórias, 16 pole positions, 41 pódios, 15 voltas mais rápidas, 936 voltas lideradas (4.536 km liderados), 1.106 pontos e o vice-campeonato em 2008, com passagens também pela Ferrari e Williams.
Nos 784 GPS seguintes ao da estréia de Emerson, apenas três corridas não contaram com a participação de pilotos brasileiros. A primeira no GP da Itália de 1977 em que Emerson não se classificou para a largada; a segunda em 1982 devido ao boicote de equipes inglesas ao GP da San Marino que impediu Nelson Piquet, Chico Serra e Raul Boesel de correr, e a terceira este ano no GP da Hungria em que Felipe Massa teve um mal estar e não pode correr.
À bem da verdade, 2017 já era para o Brasil ter ficado sem piloto. O próprio Massa recebeu várias homenagens aqui mesmo, em Interlagos, com o primeiro anúncio de aposentadoria, mas ganhou uma espécie de sobrevida na Fórmula 1 ao ser convencido pela Williams de voltar atrás da decisão para ocupar a vaga de Valtteri Bottas que foi para a Mercedes no lugar do campeão aposentado Nico Rosberg.
Desta vez não terá volta, garantiu Massa em entrevista acompanhada pela reportagem do Jornal do Sudoeste, em Interlagos.
Mas até que ponto a ausência de piloto brasileiro pode interferir no interesse pela Fórmula 1 no país? A resposta é simples: “nenhuma”. Isso mesmo. O hoje fã da categoria não depende de um brasileiro para torcer. Aqueles que ligavam a TV apenas para torcer por brasileiros deixaram de acompanhar a categoria faz tempo. Os que assistem são porque gostam do esporte e este é um público fiel. O automobilismo tem dessas coisas de cativar quem gosta. E o que poucos sabem, é que o Brasil é o país que mais dá audiência para a Fórmula 1, mais até que a Inglaterra, considerada o berço da categoria, e a Itália pela força da tradição da Ferrari.
O Brasil é também o único país que mantém as transmissões das corridas em TV aberta. Na Europa e nos Estados Unidos as provas são transmitidas em TVs a cabo, ou em esquema de rodízio entre TV aberta e fechada. Este é um caminho natural que pode chegar aqui mais cedo ou mais tarde, embora a Globo, detentora dos direitos de transmissões da Fórmula 1 tenha anunciado recentemente a renovação das cotas de patrocínio para a próxima temporada.
E não é só a Globo que gera a audiência na Fórmula 1 por aqui. Boa parcela do público fã da categoria prefere ver as corridas pela TV ouvindo pelas rádios Bandeirantes e Band News FM que mantém jornalista especializado in loco em todas as corridas.
Ainda que pese a insistência do atual prefeito de São Paulo, João Doria, em tentar privatizar o autódromo de Interlagos (na última sexta-feira um vereador conseguiu liminar na Justiça impedindo o andamento do processo de privatização) já há movimentação entre os promotores do GP do Brasil para que o contrato que vai até 2020 seja renovado.
Infelizmente o automobilismo brasileiro deixou de produzir pilotos para a Fórmula 1 como em épocas passadas. Isso tem muito a ver com as administrações passadas da Confederação Brasileira de Automobilismo que deixou ao relento as categorias de base e permitiu o encarecimento exorbitante do Kart. Os poucos pilotos que estão batalhando lá fora por um lugar na Fórmula 1, ainda não estão prontos para desembarcar na categoria, o que faz do Brasil ficar a mercê do surgimento de um super talento, como o holandês Max Verstappen, para voltar a vencer. E enquanto esse dia não chega, a Fórmula 1 seguirá por aqui do mesmo jeito.