CRÔNICA - Joel Cintra Borges

Gibran Khalil Gibran

Por: Joel Cintra Borges | Categoria: Cultura | 30-03-2018 13:03 | 3457
Foto: Reprodução

Os escritos de Khalil Gibran, de uma esquisita beleza, são impregnados de poesia, romantismo e uma filosofia profunda. Revelam também uma alma ardorosa, intensa, livre. 
Segundo seus biógrafos, ele tinha oito anos de idade quando, um dia, um temporal abateu-se sobre sua cidade. Gibran olhou, fascinado, para a natureza em fúria e, estando sua mãe ocupada, abriu a porta e saiu a correr com os ventos. Quando a mãe, apavorada, o alcançou e repreendeu, ele lhe respondeu com todo o ardor de suas paixões nascentes: 
-  Mas, mamãe, eu gosto das tempestades. Gosto delas. Gosto! 
Quando jovem, estudando no Colégio da Sabedoria, em Beirute, o diretor, procurando acalmar sua ambição impaciente por conhecimentos, diz-lhe que uma escada deve ser galgada degrau por degrau, ao que Gibran responde:
-  Mas as águias não usam escadas!
Nascido em 1883, na cidade de Bsharri, nas montanhas do Líbano, bem próximo dos cedros milenares, morreu em Nova Iorque no ano de 1931, com apenas 48 anos de idade, mas com uma carreira artística intensa, nas áreas da poesia, filosofia, pintura e outras atividades. O poema a seguir é um dos belos exemplos de seu trabalho.



 



Amai-vos...



 



Gibran Khalil Gibran



 



Amai-vos um ao outro, 
mas não façais do amor um grilhão.
Que haja, antes, um mar ondulante 
entre as praias de vossa alma.



 



 



 



Enchei a taça um do outro, 
mas não bebais da mesma taça.



 



Dai do vosso pão um ao outro, 
mas não comais do mesmo pedaço.



 



Cantai e dançai juntos, 
e sede alegres, mas deixai 
cada um de vós estar sozinho.



 



Assim como as cordas da lira
são separadas e, no entanto,
vibram na mesma harmonia.



 



Dai vosso coração, 
mas não o confieis à guarda um do outro.



 



Pois somente a mão da Vida 
pode conter vosso coração.



 



E vivei juntos, 
mas não vos aconchegueis demasiadamente.



 



Pois as colunas do templo 
erguem-se separadamente.



 



E o carvalho e o cipreste 
não crescem à sombra um do outro.