ELY VIEITEZ LISBOA

Oh tempora, oh mores!

(Exclamação de Cícero nas Catilinárias)
Por: Ely VIeitez Lisboa | Categoria: Acidente | 07-04-2018 11:04 | 1248
Foto: Reprodução

Os tempos e os costumes são rios dinâmicos. As águas nunca são as mesmas, todavia, correm para onde? 
Há duas ideologias contrárias, uma pessimista e preocupada, que encara as mudanças sempre para pior. Nesse enfoque há uma inversão de valores, a família está desagregada, a moral refugiou-se mais abaixo dos subterrâneos, a violência banalizou-se e grassa como erva maldita, o amor é um sentimento obsoleto. 
Ora, há os otimistas que encaram tudo isso como mudanças. Nada se abastardou, apenas transformou-se, tem outro aspecto, nova faceta. Realmente, as duas correntes têm acertos e erros. Todos os saudosos da moral clássica, dos adeptos dos valores mais sólidos,  da cultura erudita, do ensino exigente, dos currículos mais ricos, não podem se esquecer da riqueza da comunicação hoje, embora se deva estar atentos à via de mão dupla que ela representa. A Internet, por exemplo, é fonte de pesquisa, possibilidade rápida de comunicação, enfim, apenas uma ferramenta que deve ser bem usada. Torpe, perigosa, arma letal e corrupta, tudo dependerá do usuário. Assim é a política, a moral, os costumes. O homem é sempre o agente, aquele que faz. Os seres humanos modernos são piores, mais reféns dos vícios, menos virtuosos? Não. A essência jamais mudou e muitos apenas deram vazão aos monstros que sempre habitaram as regiões abissais do instinto, da maldade, da crueldade.
Ora, o capitalismo é apontado como o vilão entre as principais causas da inversão de valores. Realmente o Moloch do dinheiro, do ouro, do poder, desde tempos imemoriais possuiu os homens que, como súcubos, entregaram-se de maneira absoluta. Sempre houve adeptos ferrenhos do pacto de Fausto.
Talvez seja pura utopia pensar que os seres humanos sejam capazes de examinar o passado e aprender com ele, analisar o presente e saber que o agir, o fazer, o ter as rédeas nas mãos realizam milagres. Os mornos, os tíbios, os indecisos serão vomitados pela boca, não do Cristo, mas da vida. O ideal e o sonho são veredas seguras.
É um paradoxo. Os tempos mudam, mas os homens são sempre os mesmos. Como atingir o equilíbrio para que se usem todas as benesses do progresso, sem se correr o risco de degenerar, envilecer? Não importa que ideologia se tenha, mas é preciso dar um voto de crédito a esse bípede, a esse macaco glabro, que já mostrou ser também capaz de grandezas.
Se fosse possível tomar um elixir de otimismo, manipulado com pitadas de paciência e humildade, poderíamos descobrir a pedra filosofal. 
Os homens não seriam esses bichos da Terra tão pequenos, perdidos nos mais diversos labirintos. Como um Teseu valente, pegaria seu fio de Ariadne e poderia matar, não um Minotauro, mas um exército deles.




(*) Ely Vieitez Lisboa é escritora.
E-mail: elyvieitez@uol.com.br