JACUÍ

Jacuí sediou o Circuito Mineiro de Cafeicultura 2018

Produção de cafés finos foi tema de palestra
Por: Nelson Duarte | Categoria: Agricultura | 12-05-2018 08:05 | 7710
Cafeicultor Antônio Pádua de Carvalho recebeu o Certificaminas
Cafeicultor Antônio Pádua de Carvalho recebeu o Certificaminas Foto: Nelson P. Duarte/Jornal do Sudoeste

Jacuí sediou nas dependências do Parque de Exposições, quinta-feira (10/5), uma etapa do Circuito Mineiro da Cafeicultura 2018. O evento é promovido pela Secretaria de Estado de Agricultura Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais através da EMATER-MG, Universidade Federal de Lavras, o FAEPE e Prefeitura de Jacuí.
Após pronunciamentos do presidente da Câmara Municipal, Hernani Lopes de Siqueira, do gerente regional da EMATER-MG em Guaxupé, Willem Guilherme de Araújo, ex-prefeito João Arantes, representando o deputado Antonio Carlos Arantes, Juarez Moreira, secretário executivo do Fórum Territorial de Desenvolvimento do Sudoeste de Minas Gerais, prefeito de Jacuí, Geraldo Magela da Silva, foi prestada homenagem ao cafeicultor Antônio Pádua de Carvalho. 
Acompanhado por sua esposa Maria Ângela dos Santos Carvalho, Antonio Pádua de Carvalho foi homenageado com o Certificaminas, representando todos os cafeicultores participantes do programa. Também foi homenageada a funcionária da EMATER, Maria Luiza Rezende de Melo Pereira que recebeu medalha alusiva aos trinta e cinco anos de serviços prestados a empresa.
“Segurança e tecnologia na aplicação de agrotóxicos”, foi o tema da primeira palestra a cargo do coordenador técnico regional da EMATER-MG em Alfenas, Kleso Silva Franco Júnior. 
“Os desafios na produção de cafés especiais” foi abordado na palestra do engenheiro agrônomo Dr. José Marcos Angélico de Mendonça, professor no Instituto Federal Sul de Minas, campus Muzambinho, na manhã de quinta-feira (10/5), em Jacuí,
O termo “cafés especiais”, conforme enfatizou, tem sido muito falado, ultimamente, sendo aqueles que “apresentam excepcionais características de aroma e sabor, um cafezinho doce, que não amarga, não precisa ter adicionado açúcar para ser bebido, porque tem baixo amargor e, além disso, características sensoriais que são agradáveis”. Sabor adocicado, notas florais, de chocolate. Será que a gente consegue achar isto tudo em café, questionou José Luiz, para em seguida dizer que sim.
Segundo o professor, existe metodologia, uma técnica para classificar e avaliar o que vem a ser um café especial, ou seja, aqueles que atingem 80 pontos numa escala de pontuação que avalia, qual é o aroma e flagrância do café, sabor dele, com finalização “limpa”, sua acidez, corpo, enfim 10 quesitos que somados devem atingir acima de 80 pontos. “Na prática é o café que não apresenta defeitos sensoriais, pois os especiais não podem ter sabores e cheiros estranhos”, ressalta José Marcos.
“Nesta semana vivi uma situação na Universidade Federal de Lavras, ao provar um café de 90 pontos, produzido no Estado do Espírito Santo, um dos finalistas do concurso da BSCA neste ano. Sabe qual a descrição dele? – Eu vi uma bebida com notas de melaço de cana, floral e leite de coco, corpo cremoso com finalização amanteigada. O produtor vendeu a não menos que R$ 2 mil a saca”, explicou.
Ao expor esta nova tendência, professor José Marcos disse aos cafeicultores presentes ao evento, “garanto aos senhores e senhoras cafeicultores, vocês são produtores de cafés especiais. Aqueles que ainda não conseguiram produzir, estão precisando de alguns detalhes para que isto aconteça”.
Ele observou que existem informações que “somente café amarelo produz café especial, cafés colhidos acima de mil metros de altitude. “Mas digo que já provei cafés de 88 pontos produzidos a 700 metros, catuaí vermelho. Estamos entrando em um assunto muito novo, e muita coisa a respeito precisa ser conversada”, disse.
Professor José Marcos explica que as metodologias de avaliação de café utilizadas no Brasil, são comerciais, feitas por quem compra. Não existe padrão de preparo dessas amostras para degustação pelas diferentes empresas que fazem avaliação, os termos, as metodologias são totalmente diferentes. “Falo de preparo de amostras, tempo de torra, descanso desse café, quantidade por xícara, grau de moagem, temperatura da água, não existe padrão. Não estou dizendo que estão errados, sim que cada um faz à sua maneira”.
Conforme afirma o professor, são disponibilizadas aos cafeicultores, “informações superficiais”, que dizem sobre porcentagem de catação, que é a juntada de defeitos “Mas quais são os defeitos, tem mais café verde, preto, quebrado, tem casca, mal formado, quais os defeitos presentes”, questiona. São situações que podem ser mais esclarecidas, e isso não é feito, afirma José Marcos.
Outra informação dada por compradores ao cafeicultor é, “seu café bebeu. Bebeu o quê, qual o tipo da bebida”, pergunta o professor. “Vocês têm direito a mais informações sobre o café que produzem”, mas digo que também têm o dever de conhecer, e provar antes de levar o café para ser vendido, isso é uma obrigação, e vocês têm muitas ferramentas para isso, a Emater, o Senar, estão aí disponibilizando instrutores fantásticos, aprendam a provar, enfatiza. 
José Marcos disse que há muitos anos fez um trabalho de metodologia de comparação de avaliação de café no mundo, publicado em um congresso na Europa. “Foi muito interessante este trabalho, e entendemos que a classificação brasileira, dentro dos aspectos físicos, defeitos, é a melhor do mundo, onde se faz o melhor detalhamento das características físicas, mas a sensorial está limitada”.
Proposta pela Associação Americana de Cafés Especiais em 1992, foi colocada em prática a partir de 2002 uma metodologia que apresenta um protocolo de avaliação de café, existe uma regra que permite melhor comunicação entre todos os segmentos do setor cafeeiro.
Sobre como produzir cafés especiais, professor José Marcos destaca que os cuidados são necessários, planejamento desde a implantação correta da lavoura, escolha da variedade vigorosa a ser cultivada, tratos culturais, fazer análises anualmente, projeção de safra, de modo nutrir melhor as plantas e produzir cafés de qualidade. “Plantas vigorosas produzem mais, e melhor” destacou.
Há de se observar de igual maneira na colheita. “Café maduro é o ápice da qualidade, e isto não significa simplesmente a casca madura, é a planta forte. Não adianta se pensar em trabalhar com cafés maduros e verdes ao mesmo tempo, porque o teor de água, a secagem é totalmente diferente, e de igual forma, o sabor”. 
A secagem é etapa de extrema importância, onde a perda de qualidade é significativa, nada mais é que a retirada do excesso de água por evaporação. Café não melhora qualidade durante a seca, pode piorar, esclarece professor José Marcos.
Dentre outras recomendações, está também o conselho ser preciso ter constância no fornecimento de lotes de cafés para compradores. A produção de café especial não é algo achado, é construído. Disse ainda sobre a importância da “certificação”, que permite a rastreabilidade e gerenciamento. 
“Façam a individualização de lotes de cafés especiais”, procurem por profissionais técnicos. Hoje não se pode somente produzir muito, é necessário que o café seja de elevada qualidade que seja rastreado, identificado. Estejam sensíveis a estas mudanças de mercado, café especial não é frescura, é uma inovação, com uma defasagem de tempo em 15 anos. Nada mais justo que, nós que somos o maior produtor e o segundo maior consumidor de café do mundo, também sigamos esta onda, concluiu o professor José Marcos Angélico de Mendonça. 

Funcionária da EMATER, Maria Luiza Rezende de Melo  Pereira, entre gerente regional da EMATER Willem  Guilherme de Araújo e o prefeito Geraldo Magela
O coordenador técnico regional da EMATER-MG em Alfenas, Kleso Silva Franco Júnior
Engenheiro agrônomo Dr. José Marcos Angélico de  Mendonça, professor no Instituto Federal Sul de Minas