ENTRETANTO

Entretanto

Por: Renato Zupo | Categoria: Justiça | 13-06-2018 14:06 | 4023
Foto: Reprodução

A HORA DA RAINHA
Meu finado e saudoso pai brigava comigo porque, quando ainda um adolescente, eu chegava da farra tarde da noite. Às vezes voltava para casa de alguma festa com o dia amanhecendo... O velho não dormia, ficava acordado e bravo, mas não deixava de tentar filosofar e ensinar: “Por que tão tarde? – dizia ele – Até meia noite, uma da manhã, você já fez os amigos que prestavam e que tinha pra fazer, já namorou as meninas que valia a pena namorar, já ouviu as músicas e tomou as cervejas necessárias para embalar a festa... Depois desse horário só dá problema, cara!”  Nisso era senhor da razão. Desde aquela época, em que as ruas escuras eram naturalmente menos violentas, até os dias de hoje, final de noite nunca deu coisa que preste. Só bebum, briga, zona e drogado, depois de certa hora. Para que se tenha uma ideia, mesmo em uma metrópole cosmopolita e notívaga como Londres, há a denominada “hora da rainha”: onze e meia badalam-se sinos dentro dos pubs ingleses. Depois da badalada, só a saideira e a conta e à meia noite o bar se fecha. Movimento depois disso, só em clubes noturnos com isolamento acústico, dezenas de seguranças e detectores de metais. Amigo, isso faz uma diferença em termos de segurança pública... Deveria ser adotado no Brasil rapidinho.




ESPÍRITO SANTO
Visitei meus tios e primos no Espírito Santo semana passada. Incrível aquele estado. Coladinho em nossas Minas Gerais, não tem nada a ver conosco, seja no sotaque, na comida ou no modo de ser e viver dos capixabas. Fazia dez anos que não ia para aquelas bandas. Durante esse tempo escrevi livros, geri projetos sociais, palestrei e dei cursos pelo Brasil a fora, além de cuidar dos filhos – o que não é pouco. Mesmo assim errei, não se fica longe das raízes por tanto tempo. Passei em Guarapari e pelas bandas de Vitória toda a minha juventude e tenho de lá histórias lindas e inesquecíveis para contar. Pena que o estado do Espírito Santo tenha ficado tão fora de mão depois que mudei para Araxá, quase mil quilômetros distante daquela terra linda colonizada pelos jesuítas do Padre Anchieta, terra do bombom Garoto e do Rei Roberto Carlos. Praias lindas e uma água do mar cristalina e gelada são o pano de fundo de restaurantes que servem a melhor das moquecas do mundo. O Espírito Santo não é falado no resto do Brasil, é um estado que vive na moita, encruado entre o Rio de Janeiro e a Bahia. Aqueles que ali nasceram herdaram a malemolência dos cariocas e seus trejeitos e o ar gozador e livre dos baianos. Economicamente, é paupérrimo mesmo se comparado a estados do nordeste e é praticamente insignificante em termos de PIB na região Sudeste em que se encontra e que o ignora por completo. Seu desenvolvimento se deu por conta dos turistas mineiros em busca de um litoral mais próximo e barato. Guarapari foi o principal ponto de veraneio dos belorizontinos de minha época, quando era moda ter casa na praia e viajar para lá nas férias e feriados, antes dos resorts e das viagens internacionais que iludiram nossa classe média. Saudade, muita saudade, do Espírito Santo e da vida daqueles tempos.




VEM POR AÍ MAIS COPA
Está chegando a Copa do Mundo. Sempre erro nos prognósticos futebolísticos que lanço aqui. Vou relembrar: em 2006 apostei no Brasil e levamos ferro. Em 2010 disse que Espanha não estava com nada e ela foi campeã. Em 2014, em um torneio em nosso território, cravei que ganharíamos e de novo quebrei a cara. O que vou falar agora? Perdi toda a credibilidade como comentarista esportivo. Acho que haverá surpresas, mas nem tanto. Seleções que nunca foram campeãs vão dar muito trabalho: atenção para a Bélgica, Colômbia e México. Os africanos são uma decepção e, como diz Tostão, jamais serão aquilo que poderiam ter sido: correm, são fortes e dão pancada e é só.  Os asiáticos nem isso. O Japão talvez evolua daqui a uns vinte anos. Não acho a Alemanha mais tão forte assim. A Inglaterra vai fazer feio, Portugal não tem conjunto à altura de Cristiano Ronaldo e o Brasil fica de novo nas semifinais, mesmo com Neymar brilhando. De novo nos faltam zagueiros – impressionante como não produzimos beques de qualidade.  Apostaria em Espanha, França ou Argentina, com ligeira predileção pelo time de Messi.  Vamos ver se dessa vez acerto.




NÃO VAI PARAR. NÃO VAI ADIANTAR.
A quebradeira não vai parar. Depois dos caminhoneiros, virão os petroleiros e metroviários. Facções criminosas e partidos radicais de esquerda já se uniram, como na Colômbia dos anos 1990, para anarquizar a República. Vão tentar, mas não conseguirão nos transformar em uma Venezuela, assim como não fizeram outrora do Brasil uma sucursal de Moscou e uma extensão de Cuba. Somos grandes demais pra isso, religiosos demais para o comunismo, preocupados demais com contas a pagar para travarmos batalhas ideológicas de longa duração. Precisamos é cuidar da educação de nossos jovens, fazendo isso uma hora nos politizamos de fato.




O DITO PELO NÃO DITO.
“O Brasil ficou entre os OITO melhores do mundo no futebol e ficou triste. É 85º em educação e não há tristeza”. (Cristóvam Buarque – político brasileiro).