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Francine Rossi: paixão pelas corridas de moto

“O objetivo de todo piloto de rally é sempre completar a prova”
Por: João Oliveira | Categoria: Entretenimento | 10-11-2018 11:16 | 1598
Francine Rossi comemorando sua conquista em segunda participação no Rally dos Sertões
Francine Rossi comemorando sua conquista em segunda participação no Rally dos Sertões Foto: Arquivo pessoal

O empresário Francine Rossi é um é apaixonado pelas corridas de moto desde muito pequeno. A paixão, inata, ele não sabe dizer quando e como surgiu, mas que sempre houve o interesse por poder fazer trilhas e, posterior a isto, participar de campeonatos profissionais. Tendo corrido duas vezes num dos maiores eventos do mundo, o Rally dos Sertões. Filho caçula de Francisco Rossi e Maria Efigênia Rossi, casado e pai de dois filhos, aos 41 anos, e tendo já participado de inúmeras disputas, hoje seu objetivo é poder participar do Rally Paris Dakar, o maior e mais perigoso evento nesta categoria do mundo.

Jornal do Sudoeste: Como foi sua infância em Paraíso?
Francine Rossi: Foi uma infância comum a toda criança de cidade pequena, que ia para a escola e se divertida na rua o tempo todo. Aqui estudei em colégio público até a 5ª série, depois no Colégio Paula Frassinetti, depois fiz faculdade de Direito na Unifenas, quando tinha câmpus no município. Sempre moramos no centro da cidade e naquela época ainda podíamos nos divertir na rua porque era mais tranquilo e eram brincadeiras verdadeiramente saudáveis. Hoje, como todo lugar, tudo mudou, e não vemos mais nossas crianças nas ruas, elas brincam mais dentro de casa, na internet.

Jornal do Sudoeste: O que te motivou a estudar Direito?
Francine Rossi: Sou oficial substituto no Cartório de Registro de Imóveis, sendo na época no mínimo necessário ser bacharel em Direito para exercer as funções. Além do que eu gosto muito desta profissão e a acho muito interessante.

Jornal do Sudoeste: Co-mo começou seu entusiasmo pelas corridas?
Francine Rossi: Isso vem de uma vida inteira. Ainda muito novo, quando eu pedia algo relacionado a uma moto ao meu pai era cauteloso. Aos 14 anos eu comprei minha primeira moto de trilha e daí nunca mais parei. Fiz todo tipo de corrida e participei praticamente de todos os campeonatos, o único que ainda não corri foi o Rally Paris Dakar, que é a corrida que falta para completar esse objetivo de ter passado por quase todas as categorias de corridas de moto.

Jornal do Sudoeste: Houve algo ou alguém que te inspirou a correr?
Francine Rossi: Foi por instinto. Em Paraíso, na época que eu comecei, tinha muitas trilhas e achava isto muito legal. Também, naquela época não existiam muitas corridas e se fosse nos dias de hoje eu estaria começando a correr um pouco tarde, porque meninos atualmente são incentivados a correr a partir dos seis anos e com bons equipamentos, incentivados pelos pais e com uma condição financeira um pouco melhor, que lhes permite a se dedicar ao esporte. O meu intuito, quando comecei, era também trazer o esporte para Paraíso, fazer propaganda da cidade e tentar divulgar o esporte para que ele crescesse e viesse para Paraíso de fato. 

Jornal do Sudoeste: Hoje já existe uma visibilidade maior para este esporte?
Francine Rossi: Sim, há essa visibilidade, que só não foi, e não é maior, por uma questão financeira. Você bancar esse esporte do bolso para trazer para a cidade inviabiliza e, quando você consegue trazer alguma coisa você tem que ter algum subsidio do município destinado ao esporte, mas não é nada vantajoso. Este ano, por exemplo, eu e a Gil Motos recusamos a vinda do Brasileiro de Enduro vir para Paraíso por falta de apoio porque não há viabilidade nenhuma para fazer. Estive recentemente no Campeonato Mineiro, o próprio organizador do evento me ofereceu para trazer uma etapa do Campeonato Mineiro de Rally Baja para São Sebastião e eu disse que isso dependia de muitas questões.

Jornal do Sudoeste: Essa falta de incentivo e apoio acaba prejudicando quem gosta e se dedica ao esporte...
Francine Rossi: Aqui em São Sebastião do Paraíso tem entre 100 e 200 motos de trilhas, não sei ao certo. Isso é muito legal, porém, não tem incentivo para que esses praticantes da modalidade participem de algum tipo de competição, sendo assim desmotivando alguns praticantes do esporte.

Jornal do Sudoeste: Qual foi o primeiro campeonato que você participou?
Francine Rossi: Na época eu praticava o enduro de regularidade, a minha cadência de moto sempre foi assim. Eu pensava “quando eu tiver condição quero ter uma moto; quero fazer uma trilha, participar de um enduro; fazer (e fiz) o primeiro Campeonato Sul Mineiro de Enduro de Regularidade; fazer o Brasileiro de Enduro; o Enduro da Independência, que é muito famoso; quero fazer Rally Baja, Rally Cross Country e outros, e assim foi”. O primeiro campeonato que me lembro de ter participado eu ainda era menor, foi o Campeonato Sul Mineiro de Enduro de Regularidade, andávamos em toda a região do Sul de Minas: Três Pontas, Três Corações, Varginha, e outras cidades.

Jornal do Sudoeste: A primeira vitória?
Francine Rossi: Foram algumas, não me lembro ao certo qual corrida, mas foi principalmente no estado de São Paulo, quando foi difundido o “enduro fim”, já tinha acumulado algumas vitórias, nesta categoria que é um enduro de velocidade. Eu me dei muito bem nesta categoria e tive várias vitórias. Só de troféus, passam de algumas dezenas. Se for contar isso tudo, imagina quantas corridas e largadas não foram... Toda corrida você vai para competir e ganhar, mas àquelas que você não está preparado psicologicamente, emocional e tecnicamente; outras você vai para relaxar. Tenho aquelas corridas que deram tudo certo, outras que deram tudo errado, aquelas que eu ganhei e aquelas que eu perdi, teve de tudo.

Jornal do Sudoeste: Co-mo foi participar dos Rally dos Sertões pela primeira vez, em 2003?
Francine Rossi: O Rally dos Sertões sempre foi um objetivo e penso que este é o sonho de qualquer corredor, seja de fundo de quintal, do município e do estado. Este é o segundo maior rally do mundo e, em um único território é o maior do mundo e da América Latina. Sempre foi um objetivo poder participar. Neste tipo de rally são resultados diários e depois há o resultado final, nesta época foram mais de cinco mil quilômetros em 10 dias; andei muito bem, estava entre os 10 primeiros da geral, e na minha categoria entre os três, mas eu tive quebra de dois dias e, é assim o rally, você corre nove dias intensos de corrida, se há uma quebra no último dia você perde tudo o que você fez.

Jornal do Sudoeste: E como você fez para dar conta desse ritmo?
Francine Rossi: Acredito que o psicológico é em primeiro lugar. Desde que você esteja bem focado o seu corpo até tenta de obedecer, lógico que às vezes passava um pouco do ponto porque tinha dias que ficávamos 12h em cima da moto, como foi nesta minha participação este ano. O Rally ele não se baseia apenas na corrida de um dia e pronto, você precisa acordar bem cedo, se preparar, ver se o mecânico arrumou a sua moto, arrumar a navegação, fazer a largada, se deslocar novamente, correr as especiais, chegar, ir para o briefing e, com isso, você desocupa às 22h, isso supondo que você chegou, para ir dormir às 23h e levantar de madrugada novamente.

Jornal do Sudoeste: Você passa por essa maratona sozinho ou existe uma equipe de apoio?
Francine Rossi: Não, existe uma equipe. No Rally dos Sertões deste ano, corri com a equipe da ASW, que teve apoio da KTM, corremos com essas motos e, com isso, vai uma caravana do Rally com cada equipe, com seus mecânicos e motorhomes preparados com oficinas e ferramentais necessários para dar o suporte para seus pilotos.

Jornal do Sudoeste: Este ano foi a sua segunda participação no Rally dos Sertões. Por que demorou tanto tempo para voltar?
Francine Rossi: Foi a questão profissional. Quando você quer você, você faz, mas este delay de uma corrida para outra se deu justamente porque não tive tempo de conciliar meu trabalho com a corrida, já que este Rally demanda tempo, são 10 dias de corrida. Este ano acabei indo um pouco no susto; quando resolvi participar, comecei a intensificar meus treinos, treinos aeróbico, dieta, porque do contrário, você não consegue dar conta do ritmo.

Jornal do Sudoeste: Como foi voltar ao Rally dos Sertões?
Francine Rossi: Foi emocionante poder voltar. O objetivo de todo piloto de rally é sempre completar a prova, porque de fato isto já é uma vitória; corri a cada dia, com isso os resultados vieram diariamente e consegui completar a prova, fiquei muito feliz. No primeiro dia levei um pancada forte na costela, pensei em abandonar a corrida, corri mais de duas horas faltando ar e pensei que se eu seu parasse perderia todo o meu investimento e insisti até o final daquele dia; procurei um médico que me liberou para correr o dia seguinte com certa restrição, mas teve aqueles que se machucaram feio neste rally.

Jornal do Sudoeste: Durante estes anos, você sofreu algum acidente sério que o afastasse das corridas?
Francine Rossi:  Já sofri diversos acidentes, mas o que me tirou mesmo por um tempo das corridas, foi um acidente de moto speed na rodovia. Tive que por sete pinos na coluna cervical e fiquei bem machucado durante esse tempo de recuperação.

Jornal do Sudoeste: Como fica a família quando você diz que vai participar de uma corrida?
Francine Rossi: Todos ficam bem apreensivos. Mas eu gosto muito de correr.

Jornal do Sudoeste: Como foi sua participação no Campeonato Mineiro de Rally?
Francine Rossi: Este ano eu participei do Brasileiro, mas não cheguei a completar porque precisei fazer uma cirurgia no ombro e perdi algumas etapas, mas até na terceira etapa estava indo muito bem no campeonato. Já no Campeonato Mineiro, deu tudo certo; acabei perdendo uma etapa, mas mesmo assim me consagrei vice-campeão mineiro de Rally Baja 2018. A etapa final foi em Conceição do Mato Dentro, na Serra do Cipó, que é um lugar lindo de Minas Gerais e considerado a capital do ecoturismo, que é muito legal para as pessoas conhecerem.

Jornal do Sudoeste: Qual foi  a corrida mais marcante e a mais difícil que já participou?
Francine Rossi: Marcante, sem dúvida, o Rally dos Sertões e também a mais difícil. Porém, também já participeis de alguns Enduros da Independência bem difíceis.

Jornal do Sudoeste: Hoje o que falta para esse esporte se firmar no município?
Francine Rossi: Primeiramente investimento, tanto dos empresários quanto do próprio município. O atleta tem que ser no mínimo estimulado pelo município do qual ele faz parte, porque há uma secretaria de esporte que, ao meu, quando está dando visibilidade para a terra dele tem que ser ajudado. Às vezes você tem condição às vezes não tem, porque a participação nesses eventos custa caro.

Jornal do Sudoeste: Você viveria sem esse esporte?
Francine Rossi: Se preciso for, sim, porque não é fundamental. Por enquanto a gente faz enquanto Deus dá saúde e você tem condições, entre a minha família e o esporte, a minha família e o trabalho é prioridade. O rally é um hobby.

Jornal do Sudoeste: O que você recomenda para quem está começando nesse esporte?
Francine Rossi: Saber o que está fazendo, fazê-lo com segurança e se divertir, e não trazer preocupação para os outros, afinal é um esporte que também é perigoso.

Jornal do Sudoeste: Qual é o balanço que você faz desses 41 anos?
Francine Rossi:  O balanço é ter amigos, buscar a felicidade, trazer felicidade para os outros, fazer as pessoas sorrirem, ser companheiro, ser família, ser direito, ser honesto e agradecer a Deus, porque hoje as pessoas só sabem pedir. O resto é correr atrás e ir para frente.