O Diário Oficial da União publicou na terça-feira (14/2), o recebimento do pedido de patente requerido pela empresa paraisense, Flor de Abacate, para produção e comercialização de composição inseticida, formicida e larvicida, tendo como matéria prima o caroço de abacate. Testes em laboratório, conforme salienta o engenheiro agrônomo e pesquisador José Carlos Gonçalves, têm demonstrado a eficácia do larvicida no combate ao mosquito aedes aegypti. Maior produtor de abacate do país, variedade Breda, há cinco anos ele passou a produzir azeite tendo a fruta como matéria prima. Pesquisa demonstra que o caroço do abacate é “produto nobre” por sua composição, e será mais um referencial na linha de produção da Flor de Abacate.
Conforme explica Dr. José Carlos, sua pesquisa sobre o caroço de abacate se iniciou em 2008, mas foi interrompida. “Ao retomar fiz muitos testes em nosso laboratório na indústria. Coletamos larvas de aedes aegypti, que são limitadas, somente aparecem em determinadas épocas. Em 2019 fiz contato com os professores pesquisadores Luiz Francisco Pianowski e Adahilton Aníbal, e formamos uma equipe, na qual também se integrou meu filho, Carlos Alberto Pinto Gonçalves, engenheiro”.
Pianowski e Adahilton têm mais de 40 patentes inclusive nos Estados Unidos, fazem um trabalho primoroso. A pesquisa na época era conduzida visando produzir formicida e para combater outras pragas, a partir do caroço de abacate, e acabou agilizando para o aedes egypt por dois motivos, primeiro porque o resultado foi muito bom, segundo pela utilidade com essa pandemia, conta José Carlos Gonçalves.
O arcabouço, como inseticida se iniciou há seis anos. “Começamos precariamente, fazendo testes em vidro. Com a mesma dosagem, em pratos, observei que em vidro as larvas morriam mais rapidamente. No entanto, prato simula mais uma poça d’água, e entendi que traria segurança muito melhor, seria mais confiante”, esclarece.
Testes laboratoriais foram realizados na Universidade Mackenzie, método supermoderno de alta eficiência, e foram isolados mais de 20 compostos no caroço de abacate. “Trabalho minucioso, e esse pessoal é tão bom que foram isoladas substâncias identificadas como larvicidas, inseticidas, além de compostos para baixar colesterol, tratar de dores articulares, baixar glicemia, anticancerígenas para tratamento de leucemia, dentre outras”, salienta José Carlos.
TESTES
Inicialmente, segundo o pesquisador, os trabalhos serão concentrados em larvicidas, que têm um potencial enorme. O passo mais adiantado foi pegar diluições, colocar as larvas e fazer a observação. Quando estão todas mortas são retiradas e evaporada a água. “É feita extração e usamos o próprio caroço como veículo. Colocando-se 5% de peso do extrato para volume de água, mata-se todas as larvas em menos de 24 horas. Se for usado 3% e 2% de extrato, todas as larvas de igual maneira estarão mortas em 42, 48 ou 72 horas . O interessante, é que apesar de demorar mais, não propicia a eclosão das larvas, não viram mosquito (pernilongo) adulto”, observa.
Outro fato relevante é que depois de evaporada a água, a vasilha após ser reidratada por quatro vezes, e colocadas mais larvas, e até na quinta vez as larvas continuam morrendo, o que atesta o valor residual da larvicida.
“Para facilitar seu uso o larvicida em pó é peletizado. Se pegarmos um vasilhame que possa acumular água, estando vazio e nele for jogado peletis, quando houver umidade ele será dissolvido e o mosquito aedes aegypti assentado, será morto, o veneno estará lá. Caiu mais chuva, hidratou, formou poça d’água o pernilongo morre, o potencial do larvicida é muito grande”, enfatiza. Ainda vamos ter que aprimorar, mas só o fato de hidratar, poderá atravessar o período do verão, podendo ser o produto utilizado como prevenção, complementa José Carlos.
Somente a propriedade larvicida obtida a partir do caroço de abacate seria algo para se comemorar, mas os compostos vão mais além. Pesquisador na Unicamp por longos anos, José Carlos Gonçalves mantém estreita ligação com colegas que atuam nos setores Agronômico e Biológico daquela universidade.
“As coisas vão se juntando, recentemente recebi alguns amigos e comentando sobre a pesquisa que estamos desenvolvendo, eles observaram que se o produto funcionou para larvas do aedes, poderá ser testado para nematoides em café. Um deles é responsável por laboratório de produtos veterinários, que se mostrou interessado e propôs fazermos contrato fornecer o caroço do abacate para desenvolverem medicamentos, e como repelente para mosca de chifre. Vamos ter em grandes quantidades e queremos aproveita-los da melhor forma possível”, explica.
A Flor de Abacate já está com o projeto aprovado pela Vigilância Sanitária em nível estadual e nacional e cadastro no Ministério da Agricultura, análises feitas por laboratório credenciado pela Anvisa, “um resultado espetacular”, diz José Carlos Gonçalves.
“Agora precisamos construir a indústria. No momento estamos concluindo as instalações onde vamos produzir maionese, é complexo, porque quando está produzindo o azeite, não podemos prosseguir com a obra. Estamos no intervalo, fazendo manutenção do equipamento, em seguida vamos entrar nesta parte de larvicida. Parando o período de chuvas, vamos iniciar, já está tudo aprovado, é construir chamar novamente a Vigilância, enviar dados para a Anvisa e começar fabricar”.
Há mais de 30 anos, quando optou em iniciar o plantio de abacates consorciado com lavouras de café em suas fazendas, o produtor José Carlos Gonçalves certamente acreditou no empreendimento, mas possivelmente não imaginou que tomaria rumo tão acertado. O mesmo pode-se dizer sobre a implantação da indústria de azeite de abacate iniciada em 2018, para aproveitamento de frutos.
“Estamos surpresos com o resultado do azeite. Vamos iniciar a produção do refinado, e também com a linha de cosméticos que já poderíamos estar em atividade, mas aguardamos apenas publicação autorizativa pela Anvisa, o que deve ocorrer dentro de 90 dias. A área ampliada para abrigar a produção de maionese está quase finalizada. É gratificante o ponto em que estamos chegando. No Canadá querem firmar contrato conosco para importar 10 mil litros de azeite por mês, não podemos atender. Pessoal da Embrapa me questionou, porque não aceleramos o processo produtivo. Não é nosso feitio, somos agricultores e passamos a industrializar por acaso, crescendo devagar, com solidez”.
“Não temos condições de abarcar tudo, temos que tocar a agricultura, a indústria, fazer pesquisas, temos diversos convênios com universidades, um leque muito grande. Estamos abertos a parcerias com pessoas confiáveis”, disse o engenheiro, pesquisador e empresário José Carlos Gonçalves.