Hoje, gostaria de dividir com o caro leitor, uma experiência de estar com dengue. Quando estamos acometidos, nossa percepção da vida é totalmente diferente.
Ao chegar ao hospital, eu ouvi uma frase que reverberou o meu ser. O moço disse: "isso tá parecendo uma festa. Está lotado." Eu comecei a olhar ao redor para tentar entender tal fala.
Sobre as pessoas jogarem papel e lixo no chão, apenas sinto as dores da dengue em mim. Como doem.
Bom, gostaria de falar da solidariedade dos pacientes no hospital. Apesar das agulhas a lembrar-nos da nossa existência. Estávamos vivos.
Bom, voltando, os pacientes se ofereciam para buscar salgados do lado de fora. Ficávamos por muitas horas e a fome batia à porta. A ala de internação era um lugar onde o amor habitava.
A dengue deu-me uma sensibilidade excessiva. Até o vento incomodava-me. As pessoas falavam do calor e eu sentia um frio.
Tudo isso fez-me pensar sobre a vida. Nunca senti-me tão fraco e vulnerável. Achei até que iria morrer. Graças a Deus, eu estou aqui. Nós precisamos rever a nossa forma de pensar sobre a dengue.
Falam da vacina, do mato... Das políticas públicas. Até o aquecimento global entrou no meio ao favorecer a reprodução do mosquito da dengue.
Só sei dizer que as dores são horríveis.
Ficou em mim a esperança de um mundo melhor. Como conseguir isso? Não sei.
Só não queria perder as esperanças.
Deveríamos pensar que, muitas vezes, nós permitimos que a dengue esteja entre nós.
IVAN MALDI